O cenário da segurança pública na Bahia tornou-se uma verdadeira zona de guerra. O crime organizado não apenas se fortaleceu, mas passou a ditar as regras em diversas regiões, expulsando moradores, executando rivais e impondo um regime de terror. Recentemente, uma operação da Rondesp Leste em Terra Nova resultou na morte de seis integrantes do Comando Vermelho (CV), evidenciando a crescente ousadia dessas facções. Paralelamente, a realidade dentro das unidades prisionais baianas também expõe um problema crônico: a entrada desenfreada de armas e celulares, revelando um sistema penal fragilizado e refém da criminalidade.

Diante desse caos, fica a pergunta: quem está realmente protegendo a sociedade?
A resposta é clara: os policiais militares e civis.
São eles que arriscam a própria vida todos os dias, entrando em becos dominados por traficantes, enfrentando facções organizadas e patrulhando bairros onde a lei já foi substituída pelo medo. Mas, ironicamente, os mesmos que garantem a segurança da população são frequentemente tratados como vilões. A criminalização da atividade policial tem sido uma prática sistemática, ignorando a realidade de quem precisa reagir em segundos para não perder a vida.
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É sempre assim: a polícia só é valorizada na hora em que o cidadão precisa dela. Quando alguém tem a casa invadida, quando um filho é sequestrado, quando um ente querido é assassinado, a primeira coisa que se faz é clamar pela polícia. Mas, quando o policial age para combater o crime, muitas vezes é atacado, julgado antes mesmo de qualquer apuração dos fatos e colocado como culpado por fazer seu trabalho.
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O Peso da Farda e a Falta de Reconhecimento
É fácil julgar uma ação policial de dentro do ar-condicionado de um gabinete ou atrás de uma tela de celular. Difícil é ser aquele que, com um colete vencido e uma arma muitas vezes inferior à dos criminosos, precisa decidir entre atirar ou ser morto. Difícil é ser o policial que, mesmo sob tensão extrema, precisa lidar com a incerteza de ter respaldo ou se será mais um a ser crucificado pela opinião pública.

As forças de segurança da Bahia enfrentam desafios que vão além da criminalidade. A falta de efetivo, de equipamentos modernos e, principalmente, a ausência de um salário digno, tornam a profissão um sacrifício diário. Atualmente, os policiais militares da Bahia reivindicam reajustes salariais e melhores condições de trabalho. O soldado da PM na Bahia recebe em média R$ 4.450 por mês, um dos menores salários do país, enquanto estados como Goiás e Distrito Federal pagam valores superiores a R$ 6.000. Quem, em sã consciência, arriscaria a vida todos os dias em troca de uma remuneração que não condiz com a responsabilidade e o perigo da profissão?
E os policiais civis? São eles que enfrentam diariamente uma estrutura sucateada para investigar crimes e garantir que criminosos sejam retirados de circulação. Mesmo diante da falta de recursos, das dificuldades para realizar diligências e da morosidade do sistema judicial, continuam exercendo sua função com excelência. Sem eles, não há elucidação de homicídios, não há desarticulação de quadrilhas e não há justiça.

Além do medo natural da profissão, os policiais enfrentam outro temor: o medo da mídia, da perseguição jurídica e da falta de respaldo do próprio Estado. Em ocorrências que geram repercussão midiática, a Justiça impõe um rigor excessivo sobre os policiais, enquanto traficantes são frequentemente presos com grandes quantidades de drogas e armas e conseguem liberdade com facilidade. Como advogado de policiais, testemunho diariamente essa disparidade de tratamento: conseguir a liberdade de um policial preso após uma ocorrência é um verdadeiro calvário, enquanto criminosos perigosos entram e saem do sistema penal sem dificuldades.
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O Avanço das Facções e a Inação do Estado
A Bahia é palco de disputas territoriais entre facções como o Comando Vermelho (CV), Bonde do Maluco (BDM) e Primeiro Comando da Capital (PCC). O BDM, que já dominava a Bahia, agora enfrenta um crescimento agressivo do CV, que busca expandir sua atuação. Para piorar, relatórios indicam que o Comando Vermelho e o PCC estariam negociando uma aliança, algo sem precedentes e que poderia desencadear uma guerra ainda mais sangrenta pelo controle do tráfico.
O crime organizado está se profissionalizando, formando células de atuação, recrutando jovens e aumentando seu poderio bélico. Enquanto isso, o policial segue com armas defasadas, efetivo reduzido e sem qualquer incentivo para continuar na profissão. Como combater facções cada vez mais organizadas se o Estado não fortalece quem está na linha de frente?
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O Estado Precisa Escolher um Lado
As facções já escolheram: elas atuam sem medo, exploram o tráfico, controlam presídios e desafiam a polícia diariamente. Mas o governo, de que lado está?
Se a resposta for do lado da segurança, então valorizar a polícia não pode ser uma opção, tem que ser uma prioridade.
A sociedade precisa parar de enxergar o policial como o inimigo e reconhecer que, sem ele, não há ordem, não há justiça e não há paz. O aumento de salário dos policiais não é um luxo, é uma necessidade urgente. A falta de valorização dessa classe reflete diretamente no combate ao crime, e quem paga o preço não são apenas os agentes de segurança, mas toda a população.
Se a Bahia quer vencer essa guerra contra o crime, é hora de fortalecer aqueles que estão na linha de frente. Porque uma sociedade que não valoriza seus defensores já escolheu ser refém dos seus algozes.

Leonardo Mascarenhas
Vivendo e Respirando o Direito há mais de 21 anos.
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