Por: Leonardo Mascarenhas
A América Latina vive um momento de tensão extrema. A proximidade histórica entre Lula e Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, somada à aliança com Gustavo Petro, presidente da Colômbia, coloca o Brasil no centro de um tabuleiro geopolítico cada vez mais instável. O conflito com os Estados Unidos já é aberto e, embora ainda não tenha chegado ao ponto de ruptura total, os sinais de deterioração nas relações diplomáticas são claros e constantes. Estamos no olho da tempestade e basta que um raio atinja esse barril de pólvora para que a situação se torne incontrolável.

Maduro é alvo de severas sanções norte-americanas por acusações de corrupção, narcotráfico e violações de direitos humanos. Há uma recompensa milionária oferecida pelo governo dos Estados Unidos para quem fornecer informações que levem à sua prisão. Essa medida é similar à operação que resultou na captura de Osama Bin Laden, demonstrando que, para Washington, a questão é de alto interesse estratégico e que ações pontuais de captura ou neutralização estão sempre no radar. Operações desse tipo não respeitam fronteiras e podem ocorrer dentro ou fora da Venezuela, atingindo países vizinhos sem prévio aviso.

Na Colômbia, a guinada de Petro para políticas alinhadas à Venezuela incomoda Washington, que vê a região se transformar em um corredor político e econômico hostil aos seus interesses.
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A morte de Miguel Uribe Turbay há dois dias atrás, figura relevante da oposição colombiana e pré-candidato da direita ao governo da Colômbia, representa uma perda estratégica e amplifica o clima de instabilidade que já abala o continente. Ex-senador e um dos principais nomes contrários a Petro, Uribe Turbay era visto como elo importante com Washington e uma alternativa conservadora para conter avanços da esquerda. Sua morte em 11 deste mês, após ter sido baleado em 7 de junho durante comício em Bogotá, adiciona um novo ponto de tensão que pode acelerar ainda mais o descontrole político e diplomático regional.
No caso do Brasil, a aproximação de Lula com Maduro pode representar uma escalada ainda maior, especialmente se o presidente brasileiro decidir formalizar publicamente o apoio ao regime venezuelano. Pela relação pessoal e política entre ambos, esse gesto é mais do que provável. Uma declaração de apoio teria efeito imediato na piora das relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos, aprofundando as sanções já em vigor.

O problema dos Estados Unidos com o Brasil não se limita à política externa. A condução da política econômica pelo governo Lula, as barreiras a determinados investimentos estrangeiros, a aproximação com a China e o enfraquecimento de acordos comerciais estratégicos geram atritos constantes. Além disso, a presença de Bolsonaro no cenário político brasileiro, mesmo não sendo o maior motivo das tensões atuais, representa para Washington um ativo estratégico, pois sua manutenção ou eventual retorno ao poder poderia fortalecer a influência norte-americana no continente, servindo de contraponto à onda de governos de esquerda que se espalha pela região.
Os Estados Unidos sabem que, assim como na Argentina, a presença de um líder conservador no Brasil pode alterar o equilíbrio de forças na América Latina. O avanço do bloco de esquerda, composto por países como Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Nicarágua, México, Cuba, Chile, Honduras, Guatemala, São Vicente e Granadinas, Dominica, Santa Lúcia, Granada e Barbados, é visto como obstáculo direto às pretensões norte-americanas.
O real problema para os Estados Unidos vai além da simples antipatia por governos de esquerda. Trata-se de um embate ideológico e econômico de longo alcance. No campo ideológico, Washington enxerga no alinhamento desses países à Venezuela uma ameaça direta à sua influência política e cultural, temendo que o discurso anti-imperialista e a cooperação entre governos socialistas enfraqueçam a presença norte-americana no continente. No aspecto econômico, há o risco de formação de blocos comerciais e estratégicos voltados para a China e a Rússia, diminuindo a dependência da América Latina em relação ao mercado e à moeda norte-americana. O controle de recursos estratégicos, como petróleo, gás, minérios raros e alimentos, somado à instalação de bases logísticas e tecnológicas em países aliados, é visto como movimento capaz de alterar a balança de poder global.
O cenário é de alta combustão. Ainda que a possibilidade de uma guerra direta seja remota, ela não é impossível. Uma operação de captura contra Maduro poderia gerar reação militar da Venezuela e de seus parceiros, criando um conflito regional que, mesmo localizado, teria repercussão global. Nesse contexto, a tempestade que se anuncia pode, com um único sopro de vento, se transformar em um furacão geopolítico capaz de alterar profundamente o equilíbrio de forças no continente.

O Brasil, já alvo de sanções e restrições econômicas abertas, veria sua situação piorar rapidamente. Poderíamos enfrentar barreiras comerciais mais rígidas, isolamento diplomático, fuga de capitais e retração de investimentos norte-americanos. E, nesse tabuleiro, qualquer movimento mal calculado de Lula poderá não apenas agravar o atual cenário, mas precipitar o país no olho de um furacão cujas consequências poderão marcar uma geração inteira.

Leonardo Mascarenhas
Vivendo e Respirando o Direito há mais de 21 anos