Investigação da autoridade de dados revela falhas em controle de idade e uso de informações de menores de forma irregular. Plataforma terá que desativar “feed sem cadastro” em até dez dias úteis
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou nesta segunda-feira que o TikTok implemente mudanças no Brasil para corrigir irregularidades no tratamento de dados de crianças e adolescentes. O processo pode levar a sanções contra a plataforma chinesa.
Uma das ações exigidas pela ANPD é a desativação do “feed sem cadastro” em até dez dias úteis. O recurso permite a quem não é usuário do TikTok o acesso aos conteúdos da rede. O objetivo da autarquia é impedir que crianças e adolescentes acessem a plataforma sem verificação de idade, o que estaria levando à coleta irregular de seus dados pela rede.
De acordo com os técnicos da ANPD, o feed aberto representa violações à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Eles acrescentam que a exclusão dos dados pessoais tratados de forma irregular, especialmente de crianças, pode enfrentar desafios técnicos, pois essas informações podem já estar integradas a sistemas e algoritmos de personalização, dificultando sua remoção completa.
“Portanto, é crucial que a empresa adote medidas corretivas imediatas, não apenas para evitar sanções, mas também para garantir que os dados e os direitos de crianças e adolescentes sejam adequadamente protegidos”, afirma nota técnica da ANPD.
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O TikTok afirmou, em nota, que mantém “um firme compromisso com a segurança e a privacidade” e que realiza um trabalho “proativo” para remover contas que não atendem ao requisito mínimo de idade, que é de 13 anos. A empresa também destacou que há um desafio “em toda indústria” para aprimorar os controles de verificação etária, e declarou que irá colaborar com a ANPD, sociedade civil e outras empresas.
Verificação de idade
O órgão também determinou a apresentação de um plano de conformidade em 20 dias úteis que demonstre como a rede vai implementar melhorias na verificação de idade e em mecanismos para garantir o envolvimento de pais ou responsáveis.
Os técnicos apontaram quatro violações à LGPD nesse caso: ausência de mecanismos eficazes para garantir o consentimento parental; falta de comprovação de medidas de segurança; deficiência no bloqueio de menores durante o cadastro; e descumprimento do dever de responsabilidade e prestação de contas pela proteção de dados de crianças e adolescente
O procedimento ainda irá apurar se o TikTok também coleta e usa dados de crianças de forma inadequada, o que pode resultar nas sanções contra a plataforma, como multa. Em especial, a ANPD investigará o uso de dados pessoais para personalização de conteúdo.
Em quatro anos de atuação, a autarquia aplicou apenas uma multa por violação da lei geral de proteção de dados. O alvo foi uma pequena empresa de telecomunicação. Além do Tiktok, a autarquia também tem processos abertos contra Meta e o X.
As medidas são desfecho de um processo de fiscalização iniciado em 2021, após denúncias de que o TikTok estaria coletando dados pessoais de usuários, incluindo crianças e adolescentes, sem que eles fossem devidamente protegidos, e sem verificação de idade.
Na decisão sobre o processo, os técnicos da ANPD mencionam pesquisa que aponta que o TikTok é uma das redes mais populares entre crianças e adolescentes brasileiros. O levantamento do TIC Kids Online Brasil, de 2022, aponta que a plataforma é a principal rede entre 35% das crianças de 9 a 10 anos no país e entre 46% das crianças de 11 a 12 anos.
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