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Casa Civil: quando o nome pesa mais que a estrutura

Conquista News
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A proposta de criação da Casa Civil Municipal, enviada pela Prefeitura à Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, tem sido apresentada como parte de um processo de modernização administrativa. Em tese, é isso mesmo: trata-se da criação de uma secretaria que centralize articulações, alinhe estratégias entre pastas e fortaleça a gestão.

Modelos semelhantes existem nas esferas federal e estadual, com resultados diversos. Portanto, não há aqui condenação à ideia em si. O que exige atenção é o momento em que ela surge — e o impacto que poderá gerar na prática.

A nova estrutura proposta tem um desenho claro: absorverá funções estratégicas como o planejamento interno, a Defesa Civil, a articulação política e a condução do cerimonial. Isso significa que ela controlará o ritmo do governo, a agenda da prefeita, a ponte com a Câmara e as emergências administrativas. Será o filtro e, ao mesmo tempo, o comando.

É nesse ponto que o alerta se impõe. A mudança desloca o centro real do poder dentro da Prefeitura. O que hoje se decide em núcleos diversos, com especialidades e pesos próprios, passa a depender de um eixo único de coordenação. E a experiência ensina: estruturas assim não apenas concentram atribuições — elas concentram ambições.

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Embora o projeto evite mencionar nomes, nos bastidores já se aponta quem ocupará o posto. Não cabe aqui discutir biografias, nem estilos. Mas é legítimo observar que há desconforto entre secretários e servidores com o que essa figura representa nos bastidores. E isso, por si só, já revela que a mudança não é neutra. O receio não está no organograma, mas no modo como ele pode ser ocupado — e no que ele poderá silenciar.

A quem acha que se trata de uma medida qualquer, é bom refletir: essa nova secretaria, se aprovada, será o ponto de controle do governo. Tudo passará por ali. O estilo da gestão mudará — mesmo que os nomes continuem os mesmos. A prefeita, com isso, abre mão de protagonismo e transfere poder real para outra instância. A dúvida que fica é: isso é estratégico… ou é sintoma?

À Câmara de Vereadores, o alerta precisa ser direto: aprovar essa proposta é autorizar uma troca de comando interna. É compactuar com a entrega de poder a um modelo que nem todos conhecem bem — mas que já tem causado mal-estar. Alguns parlamentares sonham com 2026. É bom lembrar que quem vota por obediência hoje, pode ter que explicar o silêncio amanhã. E mais: quem tem pretensões políticas e entrega uma estrutura dessas a alguém que sabe como usar o poder, está simplesmente entregando uma bazuca a quem sabe atirar. Pode não parecer, mas essa decisão pode ser o próprio tiro político no peito.

E aos que estão na base e desfrutam de espaço, de visibilidade, de influência: é hora de olhar ao redor. As luzes mudam. E quando uma estrutura se torna o funil por onde tudo passa, o brilho de muitos pode ser reduzido à sombra de uma, duas ou três estrelas. Fui claro?

A proposta, em tese, é técnica. Mas o contexto é político. E como sempre, não é o que está no papel que governa — é o que está nas entrelinhas. E quem não enxergar isso agora, pode descobrir tarde demais que a cadeira continua no mesmo lugar, mas o comando já mudou de mãos.

Leonardo Mascarenhas
Vivendo e Respirando o Direito há mais de 21 anos.

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