Consciência negra é tema de sessão na Câmara

Foi realizada na noite desta quarta-feira, 27, na Câmara Municipal de Vitória da Conquista a sessão Solene em homenagem ao dia da Consciência Negra, comemorado no último dia 20 de novembro. Durante a sessão ainda foram entregues os troféus Zumbi dos Palmares, que reconhece três pessoas ou entidades que trabalham em combate ao racismo e o Paranauê, que reconhece os destaques da capoeira em toda a região Sudoeste.

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Troféu Zumbi dos Palmares – Jéssica Sobral Troféu Zumbi dos Palmares – Emissário Raell – Israel Célio De Oliveira Troféu Zumbi dos Palmares – Mestre Dida – Adriano Rodrigues de Brito Troféu Zumbi dos Palmares Troféu Paranauê – Gunga é meu : Manoel Alves Fernandes Mestre Sarará (VCA)Troféu Paranauê – Destaque do Ano : Celso de Jesus santos – Prof Celso (VCA)Troféu Paranauê – Besourinhos : Henzo (Grupo Nossa Arte) – Erick Silva Matos – Polêmico (Grupo Falcão) – Sabrina Pereira Santos- Sasá (Grupo Nossa Arte) – Vanessa Santos – Guerreira (Grupo Nossa Arte)Troféu Paranauê – Destaque Sudoeste: Rogério Brito Souza – Mestre Didi (Poções -Ba)Troféu Paranauê – Destaque Médio Sudoeste – Maria de Fátima Silva Oliveira – Prof Baiana – (Maiquinique Ba)Troféu Paranauê – Destaque Sertão Produtivo – Carlos Eduardo Ricardo Alves – ContraMestre Carlos – (Livramento-Ba)Troféu Paranauê – Destaque Médio Rio de Contas : Lindomar Santos – Professor Farinha (Jitaúna-Ba)Troféu Paranauê – Destaque Sou Mandingueira – Joana D’Arc – Prof Fasceira

Câmara antirracista – O presidente do Poder Legislativo Municipal, vereador Hermínio Oliveira (PP), destacou que a Sessão Especial é uma das marcas do posicionamento antirracista da Câmara Municipal. “Reforça a luta pela igualdade racial, além de celebrar e promover a valorização das tradições afro-brasileiras enquanto busca acabar com o racismo e a intolerância religiosa”, disse Oliveira.

Resistência e conquistas – O vereador Alexandre Xandó (PT), proponente da Sessão Especial, destacou que a história dos povos negros é permeada de resistência. “Quando a gente fala em comunidades tradicionais de terreiro, estamos falando em comunidades que fizeram com que a nossa ancestralidade permanecesse em nossa sociedade”, disse Xandó, lembrando de elementos da cultura afro-brasileira como o acarajé. “Esse elemento culinário que faz parte da cultura brasileira, é oriunda de nossos antepassados negros que pra cá vieram. Ao falar de questões como essas, estamos resgatando as nossas origens”, apontou ele. “Reconhecer as comunidades negras, saudar o Dia da Consciência Negra é dizer: esse povo resistiu e permanece resistindo”, complementou.

Xandó destacou conquistas alcançadas por iniciativa de seu mandato no âmbito municipal:

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• Cotas raciais nos concursos municipais;

• Imunidade Tributária para terreiros;

• Dia Municipal do Hip-hop;

• Troféu Paranauê Conquista.

Luta Quilombola: Direitos e Empoderamento – Jamile Santos de Melo Silva, representante do Instituto Quilombola, destacou a importância de refletir sobre a luta das comunidades quilombolas não apenas no Dia da Consciência Negra, mas durante todo o ano. “A consciência negra precisa ser refletida todos os dias”, disse ela, enfatizando que o racismo é um problema cotidiano que afeta profundamente crianças, jovens e adultos quilombolas. Ela criticou a falta de apoio da prefeitura de Vitória da Conquista em eventos quilombolas, dizendo: “Aqui em Vitória da Conquista não tivemos nenhum recurso. É uma vergonha.” A ativista também abordou o impacto psicológico do racismo, afirmando: “Muitas vezes as pessoas acham que é só uma brincadeira, mas o psicológico dessa pessoa carrega para casa esse sentimento de não pertencimento”. Jamile finalizou falando sobre a importância do empoderamento e reconhecimento da identidade quilombola, afirmando que “hoje, temos a possibilidade de estudar onde quisermos, de ocupar espaços de poder e de reivindicar nossos direitos.” No entanto, ela destacou as dificuldades enfrentadas pelas comunidades, como a falta de infraestrutura e serviços essenciais, especialmente nas áreas rurais.

“Acredito que a capoeira é para todos e todos são para capoeira” – Jorge Pereira, mestre cardeal do grupo Universo Capoeira, apontou em seu discurso a democratização da capoeira, afirmando que levar essa arte a todas as camadas sociais é de extrema importância para ele. Em seu discurso, agradeceu ao vereador Alexandre Xandó pela homenagem e destacou que embora a Bahia, berço da capoeira, esteja atrasada ao que concerne às políticas públicas, ele vê cada vez mais mestres e alunos dedicados nos eventos e mais capoeiristas conquistando as oportunidades que merecem.

Viver em comunhão – Apóstolo Natalício, membro do Conselho Municipal de Igualdade Racial e representante da Igreja Heróis da Fé, ressaltou que a perseguição não afeta apenas o povo de santo, mas também cristãos que não tem preconceito com outras crenças. Para ele, pastores que perseguem outras religiões “não conhecem a Deus, pois Deus veio para todos e devemos viver em comunhão, independente de qualquer coisa”. Como pastor evangélico, ele também declarou que “não concordo com muita coisa que vivemos” e enfatizou que “não adianta estarmos no púlpito pregando amor e não viver fora”. Para ele, “não podemos estar na rua pregando ódio se na igreja dizemos o contrário”. Por fim, lembrou que “Deus veio para todos independente de escolhas e opiniões”.

A ausência de símbolos religiosos em espaços públicos – Em um discurso contundente durante a Sessão Especial do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, Mãe Rosa de Oxum, presidente do Conselho de Igualdade Racial de Vitória da Conquista, denunciou a falta de representatividade das religiões de matriz africana em espaços públicos da cidade. A líder religiosa criticou a ausência de símbolos religiosos em locais como a própria Câmara de Vereadores, evidenciando a persistência da intolerância religiosa. Mãe Rosa direcionou duras críticas ao Governo Municipal, acusando-o de não apoiar pautas relacionadas às comunidades negras. A líder religiosa destacou a importância da luta por políticas públicas que garantam a igualdade racial e religiosa, e lamentou a falta de compromisso do poder público com essas causas. Em seu pronunciamento, Mãe Rosa também celebrou a luta do mandato do vereador Alexandre Xandó (PT) para garantir a isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em terreiros de candomblé no município. No entanto, a líder religiosa lamentou as dificuldades burocráticas enfrentadas pelas comunidades para fazer valer esse direito junto aos órgãos da prefeitura.

Juntos por melhorias – O vereador Andreson Ribeiro (PCdoB), lembrou a importância da sessão para se discutir, principalmente, as dificuldades e tabús ainda existentes. Lembrou que é sim, um momento de se refletir as conquistas e buscar cada vez mais as melhorias. “Precisamos revolucionar, começando com políticas públicas e que todos estejam juntos independente das divergências de ideias”, falou, pedindo mais participação da população em discussões do orçamento municipal, e afirmou que “avançamos, mas ainda estamos muito distante do ideal” e agradeceu a todos que lutam pelo fim do racismo.